Neste Dia Mundial do Solo – um dia dedicado à defesa da gestão sustentável dos solos e à sensibilização para a importância da sua saúde – é com entusiasmo que partilhamos a perspetiva da nossa aluna de mestrado Irene Marques. Ela esteve um ano com o GrowLIFE, a fazer investigação no CE3C (Ciências ULisboa) e no CFE (Universidade de Coimbra), combinando trabalho de campo e de laboratório. O seu trabalho centrou-se na análise da saúde do solo em produções agrícolas com práticas sustentáveis versus práticas convencionais, com conclusões importantes sobre o impacto das diferentes práticas agrícolas. Nesta entrevista, a Irene reflete sobre as suas experiências, os desafios que enfrentou e as lições aprendidas durante o seu trabalho no GrowLIFE. 

Olá Irene, podes apresentar-te? 

Olá! O meu nome é Irene Marques, estudei Biologia e terminei recentemente o mestrado em Recursos Biológicos, Valorização do Território e Sustentabilidade na Universidade de Coimbra. Este mestrado aborda temas relacionados com a preservação e valorização dos recursos biológicos endógenos que nos encoraja a contribuir de forma ativa para o desenvolvimento sustentável dos territórios.  

O que te chamou à atenção no Projeto GrowLIFE, e o que te motivou a escolher este trabalho de investigação em vez algo mais convencional? 

Um dos temas que abordei durante o mestrado foram Sistemas Alimentares Sustentáveis e como a Agroecologia podia ser a ferramenta chave para os alcançar. Na altura de escolher o meu local de estágio no último ano do mestrado estava um pouco perdida e sem nenhum tema que me fascinasse, mas tinha curiosidade em saber mais sobre agroecologia e sobre como produzir e consumir de forma sustentável e perceber como o modo de nos alimentarmos tem tanto impacto. Assim, decidi procurar o que era feito nessa área sobre a qual pouco sabia, e entre pesquisas cruzei-me com a “Caravana Agroecológica”. Li sobre o trabalho que estavam a desenvolver e decidi enviar um email a perguntar sobre projetos que estivessem a decorrer e nos quais fosse possível acolherem-me. Algum tempo depois recebi uma resposta e tive uma reunião com a Sara Magalhães, coordenadora do projeto GrowLIFE. O projeto estava a arrancar e parecia encaixar perfeitamente com os temas que me despertavam mais curiosidade, estavam muito recetivos a receber-me e o nervosismo da reunião transformou-se rapidamente em entusiasmo. Eu queria contribuir para uma transição para um sistema alimentar mais sustentável e senti que o GrowLIFE era a escolha certa! 

Podes dizer-nos como correu a experiência e se correspondeu às tuas expectativas? 

Terminei a minha tese com muito mais conhecimento e segura de que partilho da visão deste projeto e quero continuar a contribuir para um Sistema Alimentar Sustentável, não só ao nível pessoal como académico e profissional.

A minha primeira interação com o GrowLIFE foi na kick-off meeting em que conheci o projeto mais a fundo, partilhei com os restantes participantes sugestões para o projeto e comecei a perceber o impacto das mudanças para as quais o GrowLIFE estava a contribuir! 

Depois de poucas semanas sugeri alterar a proposta inicial do meu estágio e transitar para uma dissertação com uma visão um pouco mais focada na investigação científica, na qual tive o apoio de toda a equipa que continuamente partilhou novas perspetivas e conselhos. O meu estudo envolveu amostragem de solo por todo o país que trouxeram muitos desafios, a amostragem foi feita com dias de chuva muito forte e outros dias com muito calor. Nem sempre foi fácil, mas fazê-lo em equipa ajudou imenso. No geral, a minha experiência no GrowLIFE acabou por não ser nada do que tinha previsto inicialmente, mas tive muito apoio para encarar desafios mais difíceis e acabou por ser muito melhor do que eu alguma vez tinha esperado. Aprendi imenso com todas as pessoas da equipa e no contacto com todas as agricultoras e agricultores. Mesmo tendo chegado ao GrowLIFE um pouco perdida e apenas com curiosidade, terminei a minha tese com muito mais conhecimento e segura de que partilho da visão deste projeto e quero continuar a contribuir para um Sistema Alimentar Sustentável, não só ao nível pessoal como académico e profissional. 

Podes explicar quais foram as descobertas-chave da tua investigação? 

O principal objetivo da minha tese era identificar a influência do uso de pesticidas e de outras práticas agrícolas agroecológicas em determinados indicadores da saúde do solo. O conceito da saúde do solo está ligado à condição física, química e biológica que determina a capacidade do solo funcionar como ecossistema vivo vital capaz de assegurar os serviços dos agroecossistemas. Esta pode ser determinada através de alguns indicadores biológicos ligados à diversidade e função em relação a ciclos de nutrientes, ou físico-químicos. As produções agrícolas onde o solo foi recolhido eram maioritariamente de agricultura familiar, em que uma família é responsável pela maioria da mão de obra, e com menos de 1 hectare de área de horta. 

Verificou-se que o uso de pesticidas influencia negativamente a diversidade e a função de uma enzima ligada ao ciclo do Carbono importante na decomposição da matéria orgânica. Pelos resultados obtidos parece que o contexto da agricultura familiar é por si só promotora de diversidade e, por extensão de saúde do solo propriamente dita, variando de quinta para quinta. Tendo em consideração as especificidades de cada uma delas, é possível melhorar a saúde do solo de todas, adotando práticas sustentáveis adequadas ao seu contexto. 

Há mais alguma coisa que gostaria de partilhar com o nosso público? 

Foi muito enriquecedor para mim poder aprender com toda a equipa e todas as agricultoras e agricultores e perceber que há um grande conjunto de pessoas a trabalhar no mesmo sentido que nós e que não estamos sozinhos nesta tentativa de alcançar uma realidade mais sustentável. 

A minha participação no GrowLIFE coloca um pouco em perspetiva a forma como uma coisa tão simples como enviar um email escrito por curiosidade teve tanto impacto para me trazer até aqui. No geral, todo o meu trabalho neste projeto foi-me provando que as coisas que fazemos, por pequenas que possam parecer têm um impacto grande. Foi muito enriquecedor para mim poder aprender com toda a equipa e todas as agricultoras e agricultores e perceber que há um grande conjunto de pessoas a trabalhar no mesmo sentido que nós e que não estamos sozinhos nesta tentativa de alcançar uma realidade mais sustentável. 

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